quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Doze garrafões vazios em Labruge


Dificilmente esquecerei a imagem: ao virar de uma esquina, uma senhora carregava, em cada mão, meia-dúzia de garrafões de água vazios. Perguntei-lhe para que eram e respondeu que a única água que tinha em casa era do poço e que tinha acabado. Agora, ia pedir aos vizinhos.
Não estava à espera de semelhante coisa na freguesia onde assinámos a passagem das três centenas de quilómetros percorridos. Já tinha visto uma situação idêntica, em Guilhabreu, mas era só um garrafão. Aqui eram doze, divididos pelas duas mãos. Foi uma visão do Terceiro Mundo. Imaginar que a quinze minutos de carro da segunda cidade do país, no fim da primeira década do século XXI, ainda há pessoas em Vila do Conde que têm de pedir água a vizinhos porque a rede de distribuição ainda não lá chegou é um cenário de pesadelo. Tão ou mais grave, claro, é que aquela vilacondense jamais irá ser abastecida por água através da Câmara Municipal, a não ser que viva até aos 110 anos. É que durante os próximos quarenta, como a autarquia não teve capacidade e arte para oferecer esse serviço aos vilacondenses, irá ser uma empresa privada a fazê-lo e com as consequências ao nível do aumento do preço de água que todos já sabemos e sentimos.
Mas Labruge, felizmente, tem coisas muito mais interessantes, desde logo as pessoas, como o Silvino do mítico «Café Pardal» até à farmácia do José Manuel Beleza, meu colega no Colégio Internato dos Carvalhos durante os nossos sete anos de adolescência e que vim reencontrar, por estas bandas, no início do Verão, depois de mais de duas décadas sem sabermos do paradeiro um do outro.
O estado das ruas, que já era sofrível, agora, por via da intervenção da Indáqua, está verdadeiramente calamitoso – isto para não referir a falta de pavimentação em muitas outras ruas. Curioso, neste aspecto, foi conversar com algumas pessoas que escolheram Labruge para acolher a sua segunda casa e, naturalmente, estabelecem comparação com as suas terras de residências e as conclusões são unânimes: nunca pensaram em vir para uma terra onde falta tudo, desde saneamento a estradas condignas. Realmente, dá que pensar o tratamento reservado aos que nos visitam ou por cá estabeleceram a segunda habitação. Em vez de sermos bons anfitriões, oferecemos ribeiros poluídos, caminhos com buracos, água de esgotos a correr. Brilhante!

Distância percorrida: 19,2 Kms (Acumulado 301,56 kms)